Máscaras

 
 

Máscaras // Quantas delas sustentamos, quantas deixamos ir e quão apegados ainda somos a algumas.

O processo de se livrar de certas máscaras pode ser bastante doloroso e confuso também.

Deixar de sustentar a imagem que achamos que os outros têm de nós, ou simplesmente externar aquilo que estamos sentindo sem medo do julgamento, pode estar no limiar entre ser autêntico e um perfeito escroto. Entre deixar fluir certas pulsões, ser espontâneo, alinhado com a sua essência ou simplesmente não esconder a sua irritação pode invadir o limiar do inconsequente, do descontrolado ou do egoísta.


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  E das indagações as quais estaremos sempre sujeitos:

 

“Nossa, você está quieto hoje? Você não é assim…”

 Eu sou assim também.

 

“Poxa, você não acha que se exaltou?”

Sim, eu acho. Às vezes eu me exalto e acho que tenho o direito de me exaltar sem ofender ninguém. E humano que sou às vezes me exalto e ofendo com toda a intenção.

“Ué, você disse que não ia fazer isso…e agora fez!”

Sim, eu mudo de ideia…não sou necessariamente mentiroso. Embora eu também minta como qualquer mortal. E se a naturalidade para mudar de opinião pode ser um dos sinais de maturidade, mudar certas convicções não é para qualquer um: dá trabalho a reconstrução e exige uma dose extra de coragem para encarar o que pede para ser transformado.

“…hum, mas você disse que ia fazer tal coisa…e não fez!”

Sim, eu sou livre…não é necessariamente falta de compromisso ou de palavra. Adiar também faz parte, desistir também faz parte. (Podemos fazer uma nova trajetória a cada segundo)

“Só te digo isso pra não acharem que você é chato”

Pois é…mas muitas vezes eu sou chato. Para algumas pessoas sempre seremos chatos.

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Por isso não se trata apenas de se livrar de máscaras, mas da consciência da existência e do uso que fazemos delas, já que elas fazem parte dessa dinâmica.
Lidar com as máscaras é um aprendizado.

O simples fato de existirmos — e transitarmos, ocupando espaços — invariavelmente atravessamos o espaço do outro com a nossa palavra, com o nosso tom, com o nosso cheiro, o nosso jeito, nossa roupa, nosso cabelo, com as nossas posses e nossas faltas, com o bairro onde nascemos, com os livros, as viagens, os lugares….com o nosso hálito, a nossa cor, a nossa história e os caminhos que fazemos…atravessamos e às vezes “pisamos nos pés” do outro sustentando a nossa dor e a nossa alegria, desfilando nosso ódio e o nosso amor, fazendo giros entre a sombra e luz.

E assim seguimos nesse imenso baile de máscaras, nesse lindo e louco teatro que é a vida: hora nos mostramos e hora nos escondemos…seja por convenções, por condicionamentos, por autoproteção, por medo, por destempero, por pura distração…mas se for para colocar ou para tirar uma máscara, que seja sempre de caso pensado.